terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O desconhecido


Nunca o tinha feito, ou pelo menos nunca com tanta vontade. Enquanto desfolhava as primeiras páginas recriava a imagem que tantas vezes me impediu de o fazer: uma utopia melancólica e estremamente aborrecida. Despertava em mim um sentimento/sofrimento de tensão. Tensão, fadiga, tudo o que não se pode sentir.
Ler é uma arte e eu ainda não estava preparada para ser artista. Cada vez que me obrigaram a ler um livro desgostei. Desgostei das palavras, desgostei da capa, da contra-capa, desgostei do que era narrado, não gostei. Ponto.
Estava incapacitada face àquele dom. Uma astúcia que nos leva a sermos personagens de uma história que não é nossa. Que nos faz sonhar a cada página que folheamos. Um jeito engenhoso de evitar o pensamento como diria Arthur Helps. Somos donos de nós próprios e do mundo que promovemos a cada palavra que nos enche o coração.
Com sinceridade dediquei-me a uma doutrina que não era a minha. Um dia, pela noite, desci as escadas e fui à estante dos livros cá de casa. Não demorou tempo nenhum. Não sabia qual eleger. Foi o motivo mais bizarro que me surgiu naquele instante. "Daniela qual é a tua cor favorita?". Escolhi um com uma lombada roxa, como não poderia deixar de ser.
Há dias acabei. Acabei uma árdua tarefa que eu própria me incumbi. Soube-me bem e ao mesmo tempo senti que o livro não devia acabar por ali. Nostálgica e com saudades daquela precisosidade que não era minha. Dei por mim a sorrir do nada, que palerma, mas estava a ser tão bom...
Se já sou artista da boa leitura? Não, mas estou no bom caminho.

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