quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mais uma música

Take all your big plans and break 'em, this is bound to be a while

Quando pensares em desesperar e não souberes o porquê de tudo, ouve. Escuta o cantar dos pássaros quando abres a tua janela, tenta entender o som de cada gota que recai na tua cara, admira a força do soprar ventoso e pensa, pensa em como és capaz. Somos seres humanos. Temos a virtude de amar e ser amados, de querer e bem-querer, de descobrir e sermos descobertos. Desvendamos a pessoa que somos e o que não somos, o que seremos e o que nunca vamos ser, o que tentamos ser e o que nos obrigam a ser.
Como é bom sonhar, e viver? E reviver? Reviver momentos que na nossa memória estão em lista de espera. Aguardamos que se repitam só mais uma vez. Ou duas. Ou três. Bem, momentos “habituais repetitivos” (como ouvi alguém dizer) daqueles que não descolam e que por muito que limpemos a gaveta e que a ponhamos de pernas para o ar são impermutáveis. Nada se esquece, desculpa-se. Nada se apaga, metemos em standby.
Recordo-me de ouvir dizer que a vida é uma passagem. E nós? Precisamos ser passageiros da nossa vivência? Creio que não. Quero chegar ao fim dos meus dias e surgir-me apenas uma expressão: Fui e sou Feliz.


(Acredito que vou mudar o mundo)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O desconhecido


Nunca o tinha feito, ou pelo menos nunca com tanta vontade. Enquanto desfolhava as primeiras páginas recriava a imagem que tantas vezes me impediu de o fazer: uma utopia melancólica e estremamente aborrecida. Despertava em mim um sentimento/sofrimento de tensão. Tensão, fadiga, tudo o que não se pode sentir.
Ler é uma arte e eu ainda não estava preparada para ser artista. Cada vez que me obrigaram a ler um livro desgostei. Desgostei das palavras, desgostei da capa, da contra-capa, desgostei do que era narrado, não gostei. Ponto.
Estava incapacitada face àquele dom. Uma astúcia que nos leva a sermos personagens de uma história que não é nossa. Que nos faz sonhar a cada página que folheamos. Um jeito engenhoso de evitar o pensamento como diria Arthur Helps. Somos donos de nós próprios e do mundo que promovemos a cada palavra que nos enche o coração.
Com sinceridade dediquei-me a uma doutrina que não era a minha. Um dia, pela noite, desci as escadas e fui à estante dos livros cá de casa. Não demorou tempo nenhum. Não sabia qual eleger. Foi o motivo mais bizarro que me surgiu naquele instante. "Daniela qual é a tua cor favorita?". Escolhi um com uma lombada roxa, como não poderia deixar de ser.
Há dias acabei. Acabei uma árdua tarefa que eu própria me incumbi. Soube-me bem e ao mesmo tempo senti que o livro não devia acabar por ali. Nostálgica e com saudades daquela precisosidade que não era minha. Dei por mim a sorrir do nada, que palerma, mas estava a ser tão bom...
Se já sou artista da boa leitura? Não, mas estou no bom caminho.

De um amigo

She's a good girl, loves her mama
Loves Jesus and America too
She's a good girl, crazy 'bout Elvis
Loves horses and her boyfriend too

It's a long day living in Reseda
There's a freeway runnin' through the yard
I'm a bad boy ´cus I don't even miss her
I'm a bad boy for breakin' her heart

And I'm free, free falling
And I'm free, free falling

All the vampires walkin' through the valley
They Move west down Ventura Boulevard
And all the bad boys are standing in the shadows
And the good girls are home with broken hearts

And I'm free, free falling
Now I'm free, free falling

Free falling, now I'm, free falling, now I'm
Free falling, now I'm, free falling, now I'm

I wanna glide down over Mulholland
I wanna write her name in the sky
Gonna free fall out into nothing
Gonna leave this world for a while


Now I'm free, free falling
And now I'm free, free falling



Free Fallin' de John Mayer

(Apesar de tudo partilhámos boa música)

sábado, 16 de janeiro de 2010

Amanheceu

Bom dia,
O mundo ainda não mudou e, por isso, era de manhã também há dez anos atrás. Mais escura hoje.
De tudo o que penso, penso sermos merecedores de tudo aquilo. Do verde daqueles campos, do azul daquele céu, do brilho daquele olhar. Porém, a inocência é como um rastilho de fumo, a cada ano passado torna-se mais pequena.
Fui ingénua ao pensar que os bons momentos duram uma vida toda. Não. Não duram por isso mesmo. São momentos, momentos guardados em nós e na inocência que ainda nos resta. E quando chegarmos aos noventa? Quando o rastilho finalmente se dispersar? Não sei, um dia escrevo-te a contar como a solidão se invadirá de mim.
Embevecia-me com tudo aquilo. Tudo aquilo que me davas e mesmo como o que me fazias imaginar que davas. Talvez darás um dia...
Às vezes dou por mim a sonhar, que sina a minha! Não são os sonhos adormecidos, não são aqueles que fantasiamos quando temos direito ao descanso. São daqueles sonhos acordados. Acorda. O tempo não volta atrás. Não vamos voltar a purificar-nos com aquele ar que era só nosso. Não vais brindar-me com aquela meia-dúzia de flores que colhias só para mim. Contavas-me como seriamos felizes no fim dos nossos dias, no nosso jardim "Nosso". Que ingenuidade.
O sempre apenas existe com a inocência característica dos nossos oito anos. A vida que pensavamos ser a cores afinal é a preto e branco, como a televisão que viamos por essa altura.
Genuinidade tua e minha.
Um dia conta-me como tens passado.

Meu pequeno grande amigo

Ser marginal


Ser marginal. Não ser fora-da-lei por desprezo da norma comum. Por amoralidade, miserabilismo, ou abjecção. Ser apenas do lado da vida em que não passa muita gente, se é quase anónimo, fora do alvo que é visado pela notoriedade, curiosidade pública, grande reputação. Ser em humildade, na discrição de nós, na curta dimensão de nós. Não é por comodismo, orgulhosa modéstia, ressentimento. Não por nada disso ou outras coisas disso, mas só para nos não perdermos de nós, não nos esbanjarmos na invasão da dissipação alheia. Não por nada disso mas só pela economia do pouco que nos pertence e mal dá para abastecer uma vida. Ser marginal - sê marginal. Afecta a ti próprio o espaço que é para ti e para ti te foi dado. Na intimidade de ti, na reserva de ti, na pobreza de ti. O mais que viesse e te invadisse o teu espaço, que é que te dava? A ampliação do teu rumor na amplificação alheia dele, seria alheio e não teu. A tua voz é breve, não a amplies ao que não é. E o teu pensar, o teu sentir, o teu ser. Não os sejas mais do que és. E então verdadeiramente serás.

Vergílio Ferreira, in Conta-Corrente IV

Taxa de diferença

Amarelo. Azul. Castanho? Somos cerca de seis biliões a diambular por aí, aqui. Capacitados para gostar mais de laranja ou maçã. Sentirmos os nossos sentidos com ingenuidade. Dar-lhes oportunidade para se manifestarem nas nossas escolhas. O tacto. A audição. O paladar. A visão. O olfacto. O nosso PENSAR. Deliberamos caminhos por eles e com eles. Leques de opções se abrem a cada passo que damos, a cada busca, a cada incerteza. Sou diferente do meu vizinho do lado. Não porque ele não os tenha, mas sim porque os dele entendem a nossa passagem mortal de modo oposto. Incrível. Incrível como o nosso destino está em nós. Nas nossas mãos, no nosso faro, nos nosso olhos. Nunca estamos sós. Temos sempre, pelo menos, cinco amigos.

Rabisco


Sentei-me. Sentei-me no mesmo sítio de sempre. Sentei-me na cadeira amarela que me inspira. Sentei-me. Voltei atrás para tentar perceber a tal explicação. Preciso de me explicar o porquê de escrever. Há dias, talvez semanas, não importa. Conversava com um professor meu. Que homem culto... Eu pedia-lhe, discretamente, um motivo, a pólvora para a minha guerra. Gosto pouco que me respondam a uma dúvida com outra dúvida. Questionou-me! Aprendi a gostar. Clarificou tudo. "-És feliz a escrever?". "-Sou." Sou eu própria. Conto-me histórias. Conto-me como foi. Conto-me como será. Olho-me ao espelho, mesmo sendo o seu fundo branco. Aliás, vejo-me melhor do que ao espelho. Forma de falar para mim. De me agradar. Sempre achei que quando me intorrogavam ao revés de me responderem, tal pergunta não tinha resposta. Ele não a sabe. Ele, eu e tu.