sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Arco-Íris


Este fim-de-semana vi-te e ainda bem porque já tinha umas certas saudades tuas.
Estavas bonito como sempre, cheio de cor, mesmo estando o ambiente à nossa volta temoroso. É incrível como apareces sempre nas alturas em que eu mais te desejo, desejo ver-te, mas deixas sempre um rasto de mistério cada vez que corro atrás de ti e não me deixas tocar-te. Eu sei, escusas de te explicar, faz parte do enigma que criaram em teu redor. Se calhar às vezes é melhor assim, não ficas pressionado pelo toque das pessoas que na maior parte das vezes não te admira tanto como eu.
Em suma, volta sempre que quiseres e quando precisares de uma amiga eu estou aqui.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Embora?


Um dia pegas-me na mão e levas-me. Levas-me para lugar nenhum, levas-me sem destino. Levas-me contigo, só, sem mais nada. Um dia deixamos tudo e fugimos juntos.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Descoberta


Hoje? Hoje ouvi uma coisa interessante. Felizmente, ainda oiço várias ao longo do dia, mas esta teve um carácter especial porque nunca tinha visto por este prisma a conformidade entre o amor e a fé. São duas ideologias que vivem mesmo uma ao lado da outra e ao mesmo tempo em pontas opostas do planeta.

O amor é como a fé; muitos são aqueles que dizem sentir, mas poucos são aqueles que realmente sentem.

Não sei ao certo quem o disse, mas eu, pelo menos, dou-lhe toda a razão.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Trágico

Olá,

Já não me recordava bem o que era trocar correspondência contigo, falha minha, peço perdão. Recebi inúmeros telegramas teus, é verdade, mas infelizmente tenho andado numa correria, uma azáfama que eu nem te digo. De qualquer forma o meu bem haja por toda a tua preocupação.
Falemos agora do que realmente importa. As ruas lá fora fazem lembrar uma escoada, não de lava, mas sim de sangue, para além dos milhares de corpos perdidos de si e de quem os ama. Os vivos, refiro-me a vivos sãos, andam desesperados à procura de sobreviventes deste martírio. Que calvário que desceu às nossas vidas! Ainda assim e felizmente Deus escolheu alguns de nós para sobreviverem e não terem de assistir a esta aparição diabólica. Não imaginas a carência que eu já sentia de escrever, de transpor as minhas emoções e agonias para o papel, de poder-te confessar aquilo que só a minha alma acarreta, espírito que se desfalece a cada dia, a cada hora…
Numa das tuas poucas aparições citadinas, quando te levei à praça de comércio para comprarmos um mimoso arranjo de flores, aqui mesmo na rua um pequeno rapaz embateu contra nós, não sei se te recordas? Corria apressadamente para ir brincar, com certeza. O pequeno António era uma criança com uma fugacidade fora do normal, sempre disposto a ajudar todos à sua volta. Às vezes enternecia-me a ver aquele miúdo, enquanto lia e relia vezes sem fim os processos da rádio, a subir às árvores, e também a forma como ele manejava o seu pião. Era de um autêntico às, diga-se de passagem, e, não menos importante, a fidelidade que ele tinha para com os seus comparsas de brincadeiras, sem dúvida que era de enaltecer na idade dele.
No outro dia ia a caminho da rádio quando vejo uma grande manifestação perto da Praça da Figueira, algo comum nos últimos meses, o problema é que de um momento para o outro começaram-se a ouvir passos que a cada instante que se passava tornavam mais nítidos e temerosos. Era a polícia! Ao longe nascia uma corrente de homens a correr num passo acelerado com um bastão em punho em direcção aos pobres manifestantes que lutavam por uma vida melhor. Nesse instante recordei-me dos livros de história da idade média que tinha lida há uns dias atrás. Durante uns segundos não consegui entender a diferença entre um campo de batalha do tempo dos reis e das rainhas e aquilo que estava mesmo à frente dos meus olhos e, que infelizmente, eu não podia desfolhar as páginas do terror. Apercebi-me que algo não condizia com os meus livros quando uma criança ensaboada de sangue caiu nos meus braços; tinha sido alvejado no peito e mal conseguia permanecer com aqueles olhos cor de mel abertos. Foi aí que despertei! E depois de passar a mão pela sua cara enxerguei realmente o que estava diante dos meus olhos; o António estava feriado, gravemente ferido. Escusado será dizer que o pequeno António não escapou e eu fique lavada em lágrimas.
E, é assim. Quando puderes conta-me como tens passado.


Um beijo enorme

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Dream


Vou amar-te.
Hoje, amanhã e depois de amanhã.
Com defeitos e virtudes,
com
apreços e desdéns,
em Presença ou na solidão.

Vou amar-te,
porque é o único amor que sinto.
A verdade e a plenitude,
Concretizarao para sempre,
uma eterna comunhão.

Vou amar-te.
Num dia escuro ou na noite.
Tu concebes-me o arco-íris,
a luz, o ar, a Vida
para seres dono do meu coração!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

memórias


Se insistes em colocar muitos pontos finais na história passam a ser reticências.

Filipa Lourenço

terça-feira, 22 de junho de 2010

Tua


Se conseguires fazer diferente agradecia.
Se de cada vez que me tens magoado se abrisse uma janela, neste momento, tudo era muito mais arejado. Mas, infelizmente não. Cada vez que o fazes a única pessoa que sente sou e, ainda bem.
Estás a ficar sem mim e eu sem ti.
Pelos vistos é o que desejas e eu vou-te fazer a vontade, para além do mais, desta vez não vou pestanejar, nem olhar para trás.
A escritora Margarida Rebelo Pinto tem uma citação em um dos seus livros muito inteligente: "Amar alguém é deixá-lo partir, olhar o céu e ver na dança da lua um momento qualquer em que talvez voltes, sem nada pedir, nem nunca esperar." Talvez um dia me apeteça enxergar o céu com carinho e compreensão e tal se suceda, no entanto, e até lá, o meu céu vai ser o mesmo de todos os dias.
Por agora fica um adeus... Sim, com reticências, mas, mesmo assim, não deixa de ser um adeus.

domingo, 30 de maio de 2010

Para ti

You say you'll give me eyes in the moon of blindness
A river in a time of dryness
A harbour in the tempest.
But All the promises we make, from the cradle to the grave
When all I want is you.


U2, All I want is you

domingo, 25 de abril de 2010

Hoje não.

Há dias, uns mais que outros, em que me apetece lutar por ti, mais do que já lutei outra qualquer vez na minha e nossa vida. Despejar toda a minha força e raiva num único propósito - tu. Virar costas a tudo. O que já está feito, o que ainda vou fazer e também ao que só na minha mente é um objectivo.
Pergunto-me a mim e alguém que por ventura me esteja a ouvir se tu és motivo suficiente para tal devaneio; não tenho dúvidas que sim, outro qualquer melhor motivo não existiria. No entanto, não é o melhor momento, estou sem forças até para me levantar da cama.
Desculpa, fica para mais tarde.

terça-feira, 23 de março de 2010

.

Vem fazer diferente do que toda a gente faz.

domingo, 14 de março de 2010

Monólogo

-Eu nunca disse que o conhecia - respondeu o Foguete - Se o conhecesse nem sequer seria seu amigo. É muito perigoso conhecermos os nossos amigos.

Oscar Wilde, in O Príncipe Feliz e Outras Histórias

terça-feira, 2 de março de 2010

Nicola

Um dia és a causa de um novo tipo de música.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sim

Um dia destes quero ver se te perco pelo caminho.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

De: mim
Para: Ivânia

Mensagem: É aquela velha máxima de que devemos aceitar os outros sem deixar de nos aceitar a nós.


Preciso urgentemente de um baloiço no meu jardim de girassóis.

Está a contar

O tempo pergunta ao tempo
Quanto tempo o tempo tem,
O tempo respondeu ao tempo
Que o tempo tem tanto tempo
Quanto o tempo tempo tem.
(Eu também tenho tempo)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Planeta Abraço


Vou tomar a liberdade de criar o dia do abraço. Do abraço, do beijo, do sorriso, do toque, do carinho. Um dia calendarial que nos permita perceber a existência de mais 6 biliões para além de nós.
Um feriado internacional que nos obrigue a tomar conta dos outros indivíduos que pernoitam no mesmo planeta que nós. Vamos cuidar daqueles que precisam e mesmo dos que não precisam, que só anseiam por nós para aumentar a sua felicidade. Precisamos de ser uns para os outros e uns para nós. A nossa utilidade aumenta significativamente o bem-estar pessoal e colectivo.
Assim sendo, dia 11 de Fevereiro tornar-se-á o Dia Internacional do Abraço.
(No futuro deixará de ser apenas o dia e passará a ser a vida num abraço)

Saudades


De todos os sentimentos terrestres quero experimentar apenas um, o teu.

Um, dois, três


Um dia mau.
Um dia de decisões difíceis.
Mais um.
Um necessário e eficaz.
Despedaçado outra vez um.
Isto não é para mim.
Um outro, talvez.
Fica na tua, eu vivo na minha.
Vou me lembrar de ti.
Pelo menos até te esquecer.
E, vou espirrar o que sinto.

As tais possibilidades impossíveis,
que aprendi contigo.
Para além de tudo,
existe um amanhã e,
um depois de amanhã.
É apenas mais um.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Podemos ir dar um passeio de balão?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

País das Maravilhas

Daqui a uns dias vai haver um concerto aqui perto de casa. Queres vir comigo? Vamo-nos divertir, só os dois. Só nós ao som daquilo que é único e exclusivamente nosso, na eterna escuridão da noite que quero partilhar contigo.
Das coisas que mais se deve conjugar a dois, esta é a mais entre todas; ninguém conseguiria perceber o que apenas nós vamos sentir. A forma como vamos estremecer de cada vez que aquelas palavras soarem no nosso coração; quando as ouviamos em casa tinham um valor muito próprio, mas lá tornar-se-ão magistrais. Magistralidade essa que me nego a dividir com outro qualquer ser.
Para além de tudo e o resto vamos ouvir boa música e, a certa altura, nada mais importará senão o brilho dos nossos olhares e a sinceridade dos nossos sorrisos. Mais ainda. Vou enxergar tudo à nossa volta e vou corar, como sempre me acontece, já nem me lembrava que para além de mim e de ti muitos outros indivíduos tiveram o descaramento de comprar os nossos bilhetes. Era maravilhoso que se concretiza-se a inexistência de todos os outros.
Depois, no fim, vens trazer-me a casa e sem explicação, até porque não é preciso, beijamo-nos.
Vais.
Vou.
E vamos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Cena V

O mesmo. Um salão em casa de Capuleto. Músicos esperam. Entram criados.

ROMEU — (a Julieta) – Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio, peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência.
JULIETA — Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos pega o paladino. Esse é o beijo mais santo e conveniente.
ROMEU — Os santos e os devotos não têm boca?
JULIETA — Sim, peregrino, só para orações.
ROMEU — Deixai, então, ó santa! que esta boca mostre o caminho certo aos corações.
JULIETA — Sem se mexer, o santo exalça o voto.
ROMEU — Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados.
(Beija-a.)
JULIETA — Que passaram, assim, para meus lábios.
ROMEU — Pecados meus? Oh! Quero-os retornados. Devolve-mos.
JULIETA — Beijais tal qual os sábios.

Quero libertar-me nos meus sonhos.


(De mim para mim)

Viva o pensamento livre sem validação.
Bob Marley

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Porta-chaves

Nos últimos dias o tema "Ídolo" tem sido a face das capas de revistas portuguesas. Com tudo isto decidi reflectir acerca dos meus ídolos ou da falta deles. Para ser sincera não tenho nenhuma imagem de culto. Nem quero ter.
Admiração é uma palavra bem mais saudável e menos eufórica que todas aquelas que possam-nos surgir relacionadas à figura adorada. Admiro, certas personagens reconhecidas e outras reconhecidas apenas por mim e por quem convive com elas. Vou me centralizar nas ditas conhecidas.
Já não sei bem desde quando, mas desde sempre me lembro de ouvir o meu pai falar de um senhor que se dá pelo nome de Ernesto Guevara de la Serna, mais conhecido por Che Guevara. O meu pai é de longe um grande apreciador de Che Guevara e eu aprendi a sê-lo. Quando simpatizamos com alguém à partida será porque tem características que na nossa avaliação são grandes virtudes. É este o caso. Che Guevara é um emblema de luta contra o comunismo, é um exemplo para todos aqueles que se exaltam a favor da união dos povos subjugados. Um revolucionário, um romântico, um grande homem, sem dúvida nenhuma.
O caminho é longo e cheio de dificuldades. Às vezes, por extraviar a estrada, temos que retroceder; outras, por caminhar depressa demais, nos separamos das massas; em ocasiões, por ir lentamente sentimos de perto o hálito daqueles que pisam nos nossos calcanhares. Em nossa ambição de revolucionários, tratamos de caminhar o mais depressa possível, abrindo caminhos, mas sabemos que temos que nutrir-nos da massa e que esta só poderá avançar mais rápido se for alentada com nosso exemplo (Che Guevara, in O Socialismo e o Homem em Cuba).
Segundo pequeno grande ícone. Décimo quarto Dalai Lama, Tenzin Gyatso. Poderia ser por questões religiosas, mas não é esse o caso (não teço comentários acerca da religião), é sim, pela sua coragem e bravura na luta pela sobrevivência do seu país. Um homem dotado de uma inteligência e cultura notável, capaz de combater sem provocar um derrame de sangue característico das guerrilhas que presenciamos ultimamente. É um forte promotor de diálogos entre o budismo e a ciência ocidental, demonstrando uma enorme inovação religiosa.
Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um chama-se ontém e o outro chama-se amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver (Dalai Lama).
Duas virtudes essenciais se prendem nestes Homens: coragem e valentia. A nossa liberdade é conquistada por nós e pelas acções que tomamos por ela.

Sonha e serás livre de espírito. Luta e serás livre na vida
Che Guevara

Sê a mudança que queres ver no mundo.
Dalai Lama

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mais uma música

Take all your big plans and break 'em, this is bound to be a while

Quando pensares em desesperar e não souberes o porquê de tudo, ouve. Escuta o cantar dos pássaros quando abres a tua janela, tenta entender o som de cada gota que recai na tua cara, admira a força do soprar ventoso e pensa, pensa em como és capaz. Somos seres humanos. Temos a virtude de amar e ser amados, de querer e bem-querer, de descobrir e sermos descobertos. Desvendamos a pessoa que somos e o que não somos, o que seremos e o que nunca vamos ser, o que tentamos ser e o que nos obrigam a ser.
Como é bom sonhar, e viver? E reviver? Reviver momentos que na nossa memória estão em lista de espera. Aguardamos que se repitam só mais uma vez. Ou duas. Ou três. Bem, momentos “habituais repetitivos” (como ouvi alguém dizer) daqueles que não descolam e que por muito que limpemos a gaveta e que a ponhamos de pernas para o ar são impermutáveis. Nada se esquece, desculpa-se. Nada se apaga, metemos em standby.
Recordo-me de ouvir dizer que a vida é uma passagem. E nós? Precisamos ser passageiros da nossa vivência? Creio que não. Quero chegar ao fim dos meus dias e surgir-me apenas uma expressão: Fui e sou Feliz.


(Acredito que vou mudar o mundo)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O desconhecido


Nunca o tinha feito, ou pelo menos nunca com tanta vontade. Enquanto desfolhava as primeiras páginas recriava a imagem que tantas vezes me impediu de o fazer: uma utopia melancólica e estremamente aborrecida. Despertava em mim um sentimento/sofrimento de tensão. Tensão, fadiga, tudo o que não se pode sentir.
Ler é uma arte e eu ainda não estava preparada para ser artista. Cada vez que me obrigaram a ler um livro desgostei. Desgostei das palavras, desgostei da capa, da contra-capa, desgostei do que era narrado, não gostei. Ponto.
Estava incapacitada face àquele dom. Uma astúcia que nos leva a sermos personagens de uma história que não é nossa. Que nos faz sonhar a cada página que folheamos. Um jeito engenhoso de evitar o pensamento como diria Arthur Helps. Somos donos de nós próprios e do mundo que promovemos a cada palavra que nos enche o coração.
Com sinceridade dediquei-me a uma doutrina que não era a minha. Um dia, pela noite, desci as escadas e fui à estante dos livros cá de casa. Não demorou tempo nenhum. Não sabia qual eleger. Foi o motivo mais bizarro que me surgiu naquele instante. "Daniela qual é a tua cor favorita?". Escolhi um com uma lombada roxa, como não poderia deixar de ser.
Há dias acabei. Acabei uma árdua tarefa que eu própria me incumbi. Soube-me bem e ao mesmo tempo senti que o livro não devia acabar por ali. Nostálgica e com saudades daquela precisosidade que não era minha. Dei por mim a sorrir do nada, que palerma, mas estava a ser tão bom...
Se já sou artista da boa leitura? Não, mas estou no bom caminho.

De um amigo

She's a good girl, loves her mama
Loves Jesus and America too
She's a good girl, crazy 'bout Elvis
Loves horses and her boyfriend too

It's a long day living in Reseda
There's a freeway runnin' through the yard
I'm a bad boy ´cus I don't even miss her
I'm a bad boy for breakin' her heart

And I'm free, free falling
And I'm free, free falling

All the vampires walkin' through the valley
They Move west down Ventura Boulevard
And all the bad boys are standing in the shadows
And the good girls are home with broken hearts

And I'm free, free falling
Now I'm free, free falling

Free falling, now I'm, free falling, now I'm
Free falling, now I'm, free falling, now I'm

I wanna glide down over Mulholland
I wanna write her name in the sky
Gonna free fall out into nothing
Gonna leave this world for a while


Now I'm free, free falling
And now I'm free, free falling



Free Fallin' de John Mayer

(Apesar de tudo partilhámos boa música)

sábado, 16 de janeiro de 2010

Amanheceu

Bom dia,
O mundo ainda não mudou e, por isso, era de manhã também há dez anos atrás. Mais escura hoje.
De tudo o que penso, penso sermos merecedores de tudo aquilo. Do verde daqueles campos, do azul daquele céu, do brilho daquele olhar. Porém, a inocência é como um rastilho de fumo, a cada ano passado torna-se mais pequena.
Fui ingénua ao pensar que os bons momentos duram uma vida toda. Não. Não duram por isso mesmo. São momentos, momentos guardados em nós e na inocência que ainda nos resta. E quando chegarmos aos noventa? Quando o rastilho finalmente se dispersar? Não sei, um dia escrevo-te a contar como a solidão se invadirá de mim.
Embevecia-me com tudo aquilo. Tudo aquilo que me davas e mesmo como o que me fazias imaginar que davas. Talvez darás um dia...
Às vezes dou por mim a sonhar, que sina a minha! Não são os sonhos adormecidos, não são aqueles que fantasiamos quando temos direito ao descanso. São daqueles sonhos acordados. Acorda. O tempo não volta atrás. Não vamos voltar a purificar-nos com aquele ar que era só nosso. Não vais brindar-me com aquela meia-dúzia de flores que colhias só para mim. Contavas-me como seriamos felizes no fim dos nossos dias, no nosso jardim "Nosso". Que ingenuidade.
O sempre apenas existe com a inocência característica dos nossos oito anos. A vida que pensavamos ser a cores afinal é a preto e branco, como a televisão que viamos por essa altura.
Genuinidade tua e minha.
Um dia conta-me como tens passado.

Meu pequeno grande amigo

Ser marginal


Ser marginal. Não ser fora-da-lei por desprezo da norma comum. Por amoralidade, miserabilismo, ou abjecção. Ser apenas do lado da vida em que não passa muita gente, se é quase anónimo, fora do alvo que é visado pela notoriedade, curiosidade pública, grande reputação. Ser em humildade, na discrição de nós, na curta dimensão de nós. Não é por comodismo, orgulhosa modéstia, ressentimento. Não por nada disso ou outras coisas disso, mas só para nos não perdermos de nós, não nos esbanjarmos na invasão da dissipação alheia. Não por nada disso mas só pela economia do pouco que nos pertence e mal dá para abastecer uma vida. Ser marginal - sê marginal. Afecta a ti próprio o espaço que é para ti e para ti te foi dado. Na intimidade de ti, na reserva de ti, na pobreza de ti. O mais que viesse e te invadisse o teu espaço, que é que te dava? A ampliação do teu rumor na amplificação alheia dele, seria alheio e não teu. A tua voz é breve, não a amplies ao que não é. E o teu pensar, o teu sentir, o teu ser. Não os sejas mais do que és. E então verdadeiramente serás.

Vergílio Ferreira, in Conta-Corrente IV

Taxa de diferença

Amarelo. Azul. Castanho? Somos cerca de seis biliões a diambular por aí, aqui. Capacitados para gostar mais de laranja ou maçã. Sentirmos os nossos sentidos com ingenuidade. Dar-lhes oportunidade para se manifestarem nas nossas escolhas. O tacto. A audição. O paladar. A visão. O olfacto. O nosso PENSAR. Deliberamos caminhos por eles e com eles. Leques de opções se abrem a cada passo que damos, a cada busca, a cada incerteza. Sou diferente do meu vizinho do lado. Não porque ele não os tenha, mas sim porque os dele entendem a nossa passagem mortal de modo oposto. Incrível. Incrível como o nosso destino está em nós. Nas nossas mãos, no nosso faro, nos nosso olhos. Nunca estamos sós. Temos sempre, pelo menos, cinco amigos.

Rabisco


Sentei-me. Sentei-me no mesmo sítio de sempre. Sentei-me na cadeira amarela que me inspira. Sentei-me. Voltei atrás para tentar perceber a tal explicação. Preciso de me explicar o porquê de escrever. Há dias, talvez semanas, não importa. Conversava com um professor meu. Que homem culto... Eu pedia-lhe, discretamente, um motivo, a pólvora para a minha guerra. Gosto pouco que me respondam a uma dúvida com outra dúvida. Questionou-me! Aprendi a gostar. Clarificou tudo. "-És feliz a escrever?". "-Sou." Sou eu própria. Conto-me histórias. Conto-me como foi. Conto-me como será. Olho-me ao espelho, mesmo sendo o seu fundo branco. Aliás, vejo-me melhor do que ao espelho. Forma de falar para mim. De me agradar. Sempre achei que quando me intorrogavam ao revés de me responderem, tal pergunta não tinha resposta. Ele não a sabe. Ele, eu e tu.